Pro melhor avô do mundo

23 junho 2014

E no primeiro dia de inverno a vida ficou um pouco mais fria.

Eu juro que tentei me preparar pra esse momento. Inúmeras vezes eu imaginei qual seria a minha reação, porque geralmente a surpresa e o nervosismo de receber uma notícia ruim ativam o meu lado incrédulo que ri de nervoso e ironiza por desacreditar. Mas com você tinha que ser diferente, e foi. Mesmo querendo que fosse uma brincadeira de mal gosto eu sabia que era verdade e a minha reação foi desabar em lágrimas e desespero.

Eu achava que era chorona, que já tinha chorado muito por causa de filmes, livros e decepções amorosas mas foi apenas nesse fim de semana que eu descobri o que é chorar de verdade. Chorar como se eu tivesse perdido um pedaço de mim, e perdi mesmo. Se não fosse o Michel a me lembrar de beber água eu talvez tivesse secado, como ele implicou, de tanto chorar.

Você me ensinou algumas das coisas mais simples da vida. Você me ensinou a jogar dominó e a contar todas as peças, eu ainda me orgulho em saber prever todas as jogadas que meus adversários podem fazer. Você me ensinou a guardar todas as moedas do troco do pão que a gente compra todos os dias pro café, e com isso eu percebi que um monte de moedinhas faz sim uma boa diferença no fim do mês. Você me ensinou a descascar a laranja de um jeito que a casca fica inteirinha, feito espiral.

Você me ensinou a ver beleza e alegria nas coisas mais simples da vida.  A demonstrar amor de um jeito calado, através de atitudes. Você sempre tinha solução pros nossos problemas. Era teimoso demais, mas ainda escutava o que a gente tinha a dizer. Era extremamente implicante, não perdia uma única oportunidade sequer de colocar pilha na minha avó por causa de um pequeno atraso no horário do almoço. Era inteligente, honesto e sempre presente.

Como disse a minha tia eu tive o privilégio de ter um avô que foi como um pai pra mim. Que me levava pra escola e pra natação, mesmo sabendo que o meu medo de água fria não ia me deixar entrar na água e que por isso a viagem era perda de tempo. Você nunca reclamou disso. Eu morria de medo de andar na bicicleta com ele porque achava que ia cair, mas ele nunca deixou isso acontecer. Ele nunca me decepcionou.

Eu poderia contar muitas histórias sobre você, histórias que eu vivi e histórias que outras pessoas me contaram. Poderia escrever linhas e mais linhas sobre como você plantou coisas boas na vida das pessoas que conviveram com o senhor. Mas basta dizer que você foi o melhor avô que eu poderia ter pedido.

Descanse em paz vô. Vou sentir saudades.

1 Comentário

  1. Que texto lindo Louise!
    Perdi minha avó em junho também... e lendo seu texto senti um nó crescer na garganta!
    Parabéns por expressar tão bem o que sentiu... e parabéns por ter tido um avô tão bacana!
    Um grande beijo!

    http://renatavernisi.blogspot.com.br/

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